
As regras do pente-fino da gestão Jair Bolsonaro em benefícios do INSS abrem possibilidades para que o governo revise em larga escala situações que hoje são analisadas apenas de forma pontual. Ou seja, o novo pente-fino da Previdência poderá alcançar uma ampla variedade de beneficiários. Antes, as revisões estavam concentradas em auxílios-doença e aposentadorias por invalidez. Agora, o INSS vai procurar falhas nas concessões de praticamente todos os tipos de benefícios.
Ao anunciar o seu programa antifraude, o governo federal deixou claro que buscará indícios de irregularidade com base em informações dos cadastros oficiais. O cruzamento desses dados poderia revelar ao menos sete situações que justificariam a suspensão da renda, caso o segurado não apresente defesa, segundo a presidente do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário), Adriane Bramante.
No caso de benefícios por incapacidade, são três as situações suspeitas:
aposentados por invalidez que prestaram serviço autônomo ou, ainda, que
obtiveram emprego formal. Também podem entrar na mira beneficiários cujas
perícias ou exames e laudos médicos apontem que a incapacidade teve início em
período em que não havia carência.
O cruzamento de informações de um só cadastro, o Cnis (Cadastro Nacional de Informações Sociais), pode revelar outras três inconsistências: aposentados rurais com contribuições urbanas coincidentes com a atividade agrícola; benefício assistencial pago a grupo familiar com renda incompatível e ausências de vínculos de emprego.
A última hipótese com risco para o segurado prevista pela especialista é a
reavaliação de laudos de tempo especial por atividade insalubre. “A medida
provisória que cria o pente-fino não detalha quais situações serão
caracterizadas como prova antecipada de irregularidade, mas abre muitas
possibilidades de revisão”, diz.
GUARDAR DOCUMENTOS ORIGINAIS
A guarda cuidadosa dos documentos apresentados ao INSS no momento do pedido de
benefício é a principal forma de prevenção contra eventuais injustiças
cometidas pelo pente-fino. “É comum o beneficiário achar que, depois de
aposentado, ele não vai mais precisar da carteira profissional ou dos carnês
pagos”, diz a presidente do IBDP, Adriane Bramante. “É um erro grave
porque isso será importante na revisão.”
Para validar períodos de contribuição ausentes do Cnis, o INSS exige documentos
contemporâneos produzidos na mesma época em que ocorreu o recolhimento.
A carteira profissional original, por exemplo, é prova do tempo contribuído. A
falta desse documento exigirá a apresentação de uma série de papéis nem sempre
fáceis de serem obtidos, como a ficha de registro do profissional na empresa,
acompanhada de declaração assinada pelo empregador.
A defesa poderá ser ainda mais difícil para convocados pelo pente-fino nos
benefícios por incapacidade, principalmente para aqueles que estavam isentos do
exame pericial e que agora serão chamados, como é o caso dos aposentados por
invalidez com idades entre 55 e 59 anos e que recebem o benefício há mais de 15
anos.
Uma regra de 2017 que impedia a reavaliação desses beneficiários foi revogada
pela medida provisória 871, a mesma que instituiu o novo pente-fino.
Para esses beneficiários a saída é retomar o tratamento – no caso de não
estarem sob acompanhamento médico – e renovar laudos e exames de laboratório,
orienta a coordenadora jurídica do Sindnapi (Sindicato Nacional dos
Aposentados), Tonia Galleti. “Eles precisarão de laudos e exames médicos
para comprovar a incapacidade”, diz.
Fonte: Folha de Londrina
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